Artigo – ESG: Muito Além do “E”

Artigo Edson Lau Filho

Mais de vinte mil pessoas passaram pelo Smart City Expo, que aconteceu em Curitiba no final de março. Lá, além da apresentação de inovações tecnológicas e de gestão, foram debatidas questões contemporâneas que tem permeado a vida das cidades, empresas e, consequentemente, das pessoas. Tive a oportunidade de apresentar um debate sobre um conceito muito presente nas rodas diretivas das empresas e órgãos públicos: O conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance).

Com pompa e circunstância, empresas anunciam metas de carbono neutro, reciclagem e eficiência energética. Governos criam incentivos para projetos sustentáveis e a transição para uma economia verde. Mas, no meio dessa euforia ambiental, uma questão essencial fica em um segundo plano: e o “S” e o “G” do ESG? Onde entram as pessoas, a equidade e a governança?

O que vemos, na prática, é um ESG reduzido a uma pretensa agenda ambiental. Enquanto isso, desigualdades históricas seguem intactas, e os números, como sempre, gritam: Mulheres ganham, em média, 78% do salário dos homens, sendo que, para mulheres negras, essa diferença é ainda mais brutal – cerca de 50% do rendimento de um homem branco. Apenas 29% das empresas são lideradas por pessoas negras, e a maioria enfrenta dificuldades de acesso a crédito e a redes de contato.

Se ESG significa construir um futuro sustentável, como ignorar essas lacunas?

A questão central aqui é que não há sustentabilidade sem equidade. Diversidade e inclusão não são meros apêndices de uma estratégia ESG, mas a própria base para que um modelo sustentável de desenvolvimento se concretize. Estudos mostram que, se mulheres tivessem participação econômica igual à dos homens, o PIB brasileiro poderia crescer em até 30%. E não é diferente quando falamos de inclusão racial: companhias com maior diversidade racial e de gênero apresentam uma lucratividade 21% maior que a média do mercado. Ignorar esses dados é, no mínimo, um mau negócio.

Enquanto as empresas anunciam compromissos ambientais de longo prazo, pouco se fala sobre reestruturar suas próprias cadeias de decisão. Quem ocupa os cargos de liderança? Quem tem acesso às melhores oportunidades? Quem define o que é prioridade? O “G” de governança precisa sair da sombra do ambientalismo e se tornar o eixo organizador das transformações reais.

Não basta compensar emissões de carbono se a estrutura interna da empresa perpetua desigualdades. Não faz sentido investir em projetos sociais pontuais enquanto os processos internos seguem excludentes. O ESG tem que ser um tripé interdependente. Empresas e governos que se dizem comprometidos com o futuro sustentável devem entender que não há avanço real sem equidade e justiça social. Caso contrário, continuaremos discutindo sustentabilidade sem que a sociedade inteira esteja de fato incluída nesse futuro.